A quem pertence a língua?
DURANTE TODO O CURSO DA HISTÓRIA, governos autoritários tentaram controlar a forma como as pessoas se comportavam - e se comportam - em sociedade, seja por meio de leis, da moda, da escola, da religião e, até mesmo, por meio da língua.
As línguas desempenham papel basilar na constituição de uma sociedade, tal que não se pode falar em povo sem uma língua própria, que reflita seus ideais, suas contradições, ações e valores.
Podendo ser oral e escrita ou simplesmente oral, as línguas são divididas em naturais e artificiais. Dentre as línguas naturais, podemos citar o português, inglês, francês, espanhol, árabe, enfim, todas as línguas faladas pelas centenas de países. No entanto, no rol das línguas artificiais podemos citar o esperanto, esta criada pelo oftalmologista Ludwik Zamenhof (1859-1917).
Há séculos a ciência procura desvendar a origem das línguas naturais - trabalho difícil -, posto o grau de ancestralidade inerente à comunicação. Sabe-se, no entanto, que as línguas possuem um sistema sintático-morfológico-semântico que as permite circular pela sociedade, e pelo qual organizamos nosso discurso. A cada som existente nas línguas dá-se um nome e, atualmente, poucas são as línguas que ainda não foram mapeadas filologicamente.
Dentre as mais fascinantes descobertas da ciência linguística está que as línguas são organismos vivos, e portanto controlá-las se torna trabalho quase impossível. Mas, aqui, pergunto-me: a língua é mesmo livre de dominações e controles? A História tem indicado que não.
Pensemos no exemplo da Revolução Bolchevique. Antes da Revolução, o alfabeto russo possuía 35 letras, e a ortografia não teria regras estruturantes muito sólidas. Mudou-se o alfabeto, tirando certas letras e alterando o formato de outras, de modo a simplificar a língua, passando a operar, então, com 33 letras no total, como acontece ainda hoje, caso consideremos o E e Ë como instâncias distintas.
Nem sempre alterações numa língua são algo negativo. Por exemplo, o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi instituído pelo governo e altera a forma como as pessoas usam a língua, mas tal medida teve como finalidade a unificação da grafia de países que possuem a língua portuguesa como idioma oficial, o que é positivo para os falantes.
Finalmente, a língua não dispõe de um possuidor, mas pode sofrer alterações por meio de forças que excedem a livre circulação do léxico, como é o caso das leis e das revoluções. O que é preciso ter em mente é que as línguas devem ser consideradas bem comum da Humanidade, não podendo, portanto, serem sequestradas para fins indignos e antidemocráticos.
Ao contrário, ela é e deve continuar sendo constantemente aperfeiçoada pelos povos, nativos ou estrangeiros, no sentido de que eu aprendo e transmito, e, nessa transmissão, o outro falante acrescenta novas tonalidades e a transmite a outros, dando corpo ao que chamamos civilização.
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